sábado, 14 de maio de 2011

'Bem-aventuranças - 'Nada tem Sucesso como o Fracasso'


Talvez não haja melhor afirmação da mensagem das bem-aventuranças (Mateus 5:2-12) do que o pequeno e curioso ditado de G. K. Chesterton: "Nada tem sucesso como o fracasso." Naturalmente, Jesus não estava falando de fracasso real, como Chesterton também não estava, mas do que os homens têm convencionalmente chamado de fracasso. A cruz foi, certamente, um desastre colossal, por qualquer padrão convencional. Ela só parece "certa" a muitos de nós agora porque consentimos em dezenove séculos de tradição bem estabelecida. Não é tão notável, então, que um reino destinado a ser elevado ao poder sobre uma cruz fosse cheio de surpresas e que Jesus dissesse que somente aqueles que fossem fracassos aparentes tinham alguma esperança em suas bênçãos. Nas seguintes bem-aventuranças o Salvador deixa bem claro que o reino do céu pertence não aos cheios, mas aos vazios.

"Bem-aventurados os humildes de espírito" (Mateus 5:3). Jesus começa tocando a fonte do caráter do cidadão do reino: sua atitude para consigo mesmo na presença de Deus. Lucas abrevia esta bem-aventurança para "Bem-aventurados vós os pobres" (6:20) e registra também uma desgraça pronunciada por Jesus sobre os ricos (6:24). Na sinagoga de Nazaré, Jesus havia lido a profecia messiânica de Isaías, dos pobres "mansos" recebendo o evangelho (Isaías 61:1; Lucas 4:18) e mais tarde haveria de, sobriamente, advertir que o rico não entraria facilmente no reino (Lucas 18:24-25). Mas, enquanto é verdade que "a grande multidão o ouvia com prazer" (Marcos 12:37) porque a penúria dos pobres os traz à humildade mais facilmente do que a confortável abundância do rico, o relato que Mateus faz do sermão torna evidente que Jesus não está falando da pobreza econômica. Não é impossível para o pobre ser arrogante nem para o rico ser humilde. Estes "pobres" são aqueles que, possuindo pouco ou muito, tem consciência de seu próprio vazio espiritual.

A palavra grega, aqui traduzida como "humilde", vem de uma raiz que significa abaixar-se ou encolher-se. Ela se refere não simplesmente àqueles para quem a vida é uma luta, mas aos homens que são constrangidos à mais abjeta mendicância porque eles não têm absolutamente nada (Lucas 16:20-21). Aqui ela é aplicada à pecaminosa vacuidade de uma falência espiritual absoluta, na qual uma pessoa é compelida a implorar por aquilo que ela é impotente para obter (Jeremias 10:23), e ao que ela não tem nenhum direito (Lucas 15:18-19; 18:13) mas sem o que ela não pode viver. Mendigar é duro para os homens, (Lucas 16:3), especialmente os orgulhosos e confiantes em si mesmos, mas isto é onde nossos caminhos pecaminosos nos têm levado e não veremos o reino do céu até que encaremos esta realidade com humilde simplicidade.

"Bem-aventurados os que choram" (Mateus 5:4). Os homens têm sido educados para acreditar que lágrimas têm que ser evitadas, para ganhar felicidade. Jesus simplesmente diz que isto não é verdade. Há certa tristeza que tem que ser abraçada, não porque ela é inevitável e a luta fútil, mas porque a verdadeira felicidade é impossível sem ela.

Até mesmo a aflição que é inevitável aos homens mortais, seja qual for sua condição, pode ter efeitos saudáveis sobre nossas vidas, se permitirmos que assim seja. Ela pode, como Salomão diz, lembrar-nos da tênue transitoriedade de nossas vidas e pôr-nos a pensar seriamente sobre as coisas mais importantes (Eclesiastes 7:2-4). O salmista, que nos deu tão rica meditação sobre a grandeza da lei de Deus, ligou a dor com o entendimento. "Antes de ser afligido" ele refletiu, "andava errado, mas agora guardo tua palavra." Ele, então, conclui, "Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos" (Salmo 119:67,71). As lágrimas têm sempre nos ensinado mais do que os risos sobre as veracidades da vida.

Mas, há algo mais sobre o choro, nesta jóia de paradoxo, do que as lágrimas a que não podemos fugir, a tristeza que vem sem ser chamada nem procurada. Esta aflição vem-nos por escolha, não por necessidade. O Velho Testamento influenciaria nosso entendimento destas palavras faladas primeiramente a uma audiência judaica. Isaías previu que o Ungido do Senhor viria para "curar os quebrantados de coração" e para "consolar todos os que choram" (61:1-2). Mas estas palavras foram aplicadas somente a um remanescente de Israel, que haveria de ser humilhado e entristecido através das aflições da nação por seus pecados. A visão de Ezequiel da ira de Deus por uma Jerusalém corrupta revelou que somente aqueles que "suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela" deverão ser poupados (9:4-6). Sofonias fez uma advertência semelhante (3:11-13,18).

Os profetas queriam que entendêssemos este choro como a aflição experimentada por aqueles que em sua reverência por Deus estão horrorizados por seus próprios pecados e aqueles de seus companheiros, e são comovidos às lágrimas de amarga vergonha e aflição. Esta é a "tristeza segundo Deus", sobre a qual Paulo escreve, uma tristeza que "produz arrependimento para a salvação" (2 Coríntios 7:10). Estas são as lágrimas que temos que decidir derramar, renunciando ao nosso orgulho obstinado; e por vontade de escolher, chegar ao inenarrável conforto de um Deus que perdoa a todos nós, toma-nos para ele, e finalmente enxugará todas as lágrimas (Apocalipse 21:4). Nada, exceto a misericórdia de Deus pode mitigar uma aflição como esta.

Autor: Artigo recebido por email

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